
MPB. Você conhece essa sigla e sabe que significa “música popular brasileira”, não é? Talvez você a associe com grandes vozes do nosso país, talvez se lembre de aberturas de novelas, das músicas que você já ouviu nas rádios nacionais, ou mesmo de canções que embalaram períodos históricos do Brasil.
Mas será que a MPB significa apenas isso? Será que esse termo, já antigo, foi perdendo seu significado original com o passar do tempo? Como a MPB surgiu? Como identificá-la? Como a MPB se relaciona com a tradição musical do Brasil?
Como uma loja que nasce da paixão pela música brasileira e contempla toda a sua diversidade no nosso acervo, a Taioba Discos vai explorar neste post essas e outras questões, e te indicar 5 discos icônicos do gênero para você curtir muito!
Como a MPB surgiu? Como a MPB se formou?
De acordo com o Jornal da USP, o conceito de música popular brasileira, ou MPB, surgiu no começo dos anos 1960, tendo como base preceitos culturais, artísticos e até políticos. O contexto nacional da época era de urbanização intensa, industrialização acelerada e crescente tensão política, o que culminou na ditadura de 1964. Foi nesse cenário instável e de grande impacto na produção cultural do país que a MPB se formou.
Criada como uma evolução da bossa bova, o projeto de música popular brasileira nasceu com um viés marcadamente nacionalista e com o intuito de fundir influências das tradições populares brasileiras com engajamento político.
Seu marco inicial é a interpretação da pimentinha Elis Regina de “Arrastão”, composta por Edu Lobo e Vinícius de Moraes, no 1º Festival de Música Popular Brasileira, de 1965.
Outras canções, como "A banda", de Chico Buarque, vencedora da segunda edição do mesmo festival, também marca as primeiras canções do gênero.
Quando a MPB surgiu, ela chegou a rejeitar, por exemplo, a guitarra elétrica por considerá-la um estrangeirismo. O resultado disso foi a “Marcha contra a guitarra elétrica”, realizada em São Paulo, em 1967, liderada por Elis Regina e contando com nomes como Jair Rodrigues e Geraldo Vandré.
Com o fracasso da iniciativa, ficou claro que esse protecionismo em torno das raízes culturais brasileiras limitaria as possibilidades sonoras e artísticas da nossa música. A guitarra elétrica tornou-se um símbolo de resistência contra a ditadura militar e a MPB foi se abrindo para outros ritmos, modificando-se ao longo do tempo e se tornando um gênero muito mais amplo do que aquele da origem. Por isso mesmo, o termo se tornou mais difícil de ser definido e identificado.
MPB: como identificar?
O professor e estudioso de música Alberto Ikeda afirmou ao Jornal da USP que a sigla MPB surgiu como uma forma de distingui-la da música considerada comercial nos anos 1960, a exemplo do rock’n roll. Na época, Elvis Presley era o grande nome do gênero com canções como “Jailhouse Rock”.
Até os anos 1990, a classificação MPB também ajudava a indústria da música a propor algum direcionamento de vendagem. Hoje, é difícil definir o termo de modo conceitual, já que praticamente toda música produzida no país pode entrar no guarda-chuva da música popular brasileira.
Uma das possibilidades de entendê-la se dá a partir da noção de gênero musical. Partindo desse viés, a MPB pode ser identificada como:
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um gênero que abraça vários ritmos, como o samba, a bossa nova e até mesmo o rock, a exemplo de canções como “Luz dos olhos”, de Cássia Eller.
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um gênero em que as canções geralmente têm letras poéticas e reflexivas, muitas vezes contendo críticas sociais, a exemplo de “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré.
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um gênero que tem o violão como seu principal instrumento, a exemplo da interpretação de "Sozinho", de Caetano Veloso;
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um gênero associado a nomes como Chico Buarque, Elis Regina, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa.
Vale frisar que a MPB também tem as suas controvérsias.
Como projeto gestado pela classe média e pelas elites intelectuais, ela é apontada por muitos como um gênero elitista. Um dos principais argumentos em torno disso está no fato de que alguns gêneros populares, como o funk e o sertanejo, encontram pouco ou nenhum espaço na MPB. Apesar disso, o gênero permanece em disputa, dialogando com o tradicional, mas também abrindo espaço para novas tendências.
Como a MPB se relaciona com a tradição musical do brasil?
Ao incorporar elementos do samba, do choro, da música popular e da música folclórica, a MPB não só dialoga, mas transforma a tradição musical do país. Ela funde o tradicional e o moderno, conversa com o popular e o erudito, celebra o cosmopolita e o regional, e faz tudo isso a partir de um olhar reflexivo sobre o Brasil.
Exemplo disso são artistas como Chico Buarque, que tem na base estrutural do samba o terreno para criar suas canções, muitas vezes críticas à política brasileira, como a clássica “Apesar de você”. Já Gilberto Gil incorporou ritmos como o xote, o baião e o forró traduzindo as nuances populares do país em músicas como “São João Xangô Menino” e “Esperando na janela”.
Esses são apenas dois casos da riqueza que a mistura de estilos na MPB pode proporcionar à música brasileira. Mas se você quer ir mais fundo nesse gênero, nada melhor do que conhecer os 5 discos que listamos a seguir.
5 DISCOS ICÔNICOS PARA CURTIR A MPB
Índia (1973) - Gal Costa

“Índia” é um daqueles trabalhos memoráveis da MPB: capa icônica, músicas incríveis e muita história para contar! O disco é o quarto trabalho de estúdio de Gal Costa e reúne grandes composições da música brasileira como “Índia”, “Volta”, “Desafinado” e “Da maior importância”. A capa chegou a ser censurada pela ditadura militar, mas isso não atrapalhou o sucesso do álbum: até hoje, ele é um dos mais vendidos da artista.
Deus é mulher (2018) - Elza Soares

Com um nome no mínimo provocativo, “Deus é mulher” expressa toda aura punk de uma Elza Soares prestes a fazer 88 anos de idade. Mais do que usar a voz para cantar, Elza a usa para dizer que não vai se calar. É nesse ritmo que ela nos embala em canções como “O que se cala”, “Exu nas escolas”, “Banho” e “Eu quero comer você”. O destaque vai também para a riqueza sonora do disco, que mistura MPB, rock, samba e pós-punk.
Joia (1975) - Caetano Veloso

Sabe aqueles discos gostosinhos para se ouvir no final da tarde? O “Joia” é assim. Ele marca o retorno de Caetano Veloso do exílio e traz uma MPB introspectiva, simples e quase artesanal. Músicas como “Minha mulher”, “Lua, Lua, Lua, Lua”, “Pipoca Moderna”, “Joia” e a versão de “Help”, dos Beatles, são os destaques. Uma curiosidade é que essa capa também foi censurada pela ditadura militar da época.
Carlos, ERASMO… (1971)

Sabe a música “É preciso dar um jeito, meu amigo”, que é parte da trilha sonora do nosso ganhador do Oscar “Ainda estou aqui?” Pois bem, essa é somente uma das faixas desse discaço de Erasmo Carlos. Marcando uma fase mais roqueira e politizada do artista, o disco mistura o rock setentista com a MPB e entrega preciosidades como “De noite na cama”, “Masculino, feminino” e “Gente aberta”.
Vento de maio (1998) - Elis Regina

Para fechar com chave de ouro, nada melhor do que trazer a pimentinha Elis Regina. Em “Vento de maio”, coletânea póstuma, o destaque vai para seleção das canções: “Tiro ao Álvaro”, com Adoniran Barbosa, “O trem azul” e “Se eu quiser falar com Deus” são apenas algumas das grandes faixas do disco. Além disso, as participações de Milton Nascimento e de Lô Borges deixam a MPB de Elis ainda mais preciosa e digna de ser ouvida bem alto.
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Sobre a autoraSuzana Mateus é jornalista, redatora, revisora e doutora em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Desde 2016, escreve sobre música na academia, onde desenvolveu uma tese sobre performance musical e encenação com foco na MPB. Colabora com a Taioba desde 2025. |
